A Arte da Fuga

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O Quinta Essentia recebeu a primeira avaliação do seu mais novo disco com a integral da obra A Arte da Fuga de Bach, que será lançado em Maio mundialmente, pelo selo alemão ARS-Produktion.

Com grande satisfação, traduzimos a resenha abaixo, e deixamos o link original com o texto em inglês:

Bach: The Art of Fugue – Quinta Essentia Quartet

Artigo original em inglês: https://www.hraudio.net/showmusic.php?title=12163&showall=1

Resenha por Adrian Quanjer – 12 de Março de 2017

O disco é especial por muitas razões. A mais óbvia é: 81 minutos de música gravados em um CD quando sabemos que o máximo para esta mídia é 80 minutos. Contudo, a mais importante pertence à escolha da instrumentação.

Mas antes de comentar sobre a instrumentação, talvez seja útil lembrar, embora os estudiosos não concordem, sobre o que é “A Arte da Fuga”, qual a real intenção de Bach com a obra?  É ilustrativo que Bach não escreveu as variações para um instrumento específico. Eles foram escritos na chamada instrumentação aberta. Isso não era incomum naqueles dias, desde que ele forneça pelo menos uma indicação do tipo de instrumentação, como por exemplo ‘para teclado’, dando assim uma escolha entre órgão e cravo. No entanto, no caso de A Arte da Fuga, a questão permanece aberta. De propósito? As opiniões de especialistas variam, como fazem sobre muitas outras coisas sobre a composição final de Bach.

Pertenço àqueles que consideram que os contrapontos de Bach tratam principalmente de técnicas de composição e podem, portanto, ser melhor vistos como um exercício intelectual ou, nas palavras do musicólogo alemão Christoph Wolff: “uma exploração em profundidade das possibilidades contrapontísticas inerentes a um único tema musical”. Em termos simples: material de estudo composicional. Ou (tendo em conta que estes foram o exercício final de sua vida) um legado do que ele (Bach) considerou ser o zênite de suas habilidades de composição, deixando para outros a finalização do seu último contraponto (14, inacabado) mas não menos assinado: B-A-C-H.

Muitos estão acostumados a apresentações com órgão, capaz de cobrir os graves e agudos, o que, de acordo com eminentes tecladistas como Gustav Leonhardt, o cravo é incapaz de fazer. Mas existem outras versões instrumentais. Para quarteto de cordas (Emerson Quartet), ou orquestral (Musica Antigua Köln), este último oferecendo a possibilidade de trazer mais variação na perspectiva sonora. Porque, vamos ser honestos, ouvir um conjunto completo de 14 exercícios de contrapontos não é algo muito simples de ouvir. É mais alimento para a mente do que alimento aos ouvidos. É provavelmente por isso que alguns intérpretes tocam apenas “capita selecta” para não sobrecarregar demasiado o cérebro do ouvinte, ao mesmo tempo em que dão a devida homenagem ao que poderia, de fato, ser considerado a realização final na obra de Bach.

O Quinta Essentia Quarteto, composto por quatro músicos brasileiros, com grande popularidade em seu país, propõe não apenas ser o mais completo possível, baseado em grande parte no manuscrito original (embora usando também a edição revisada de 1751 do C. P. E. Bach), mas também realizando a música com quatro flautas doces. E “por razões de sonoridade” optaram por instrumentos históricos. O problema, contudo, era encontrar (cópias) de instrumentos históricos que pudessem abranger toda a tessitura, desde a nota mais aguda à mais grave. No encarte, tudo isso é explicado; também que, finalmente, um fabricante de instrumentos japonês se ofereceu para fazer um segundo corpo para uma flauta grande-baixo 440 Hz Yamaha moderna, para que pudesse ser tocada em diapasão “histórico” 415 Hz.

O resultado, tal como realizado pelo Quarteto Quinta Essentia, é bastante interessante. Sendo de uma mesma família, os quatro instrumentos escolhidos têm a capacidade de misturar-se perfeitamente uns com os outros, emulando como se fosse um pequeno órgão de câmara. Do ponto de vista artístico, o seu conceito funciona «à la merveille» e, em termos puramente musicais, o veredicto deve ser: “missão cumprida”. No entanto, de tão impecável e atraente tenha sido a sua leitura da obra, eu estou menos entusiasmado com o som gravado.

Devido ao seu timbre individual, gravar um grupo de flautas doces não é de modo algum algo fácil. Para evitar a interferência de freqüência obtendo a melhor fidelidade possível é de primordial importância. Quanto maior a resolução melhor será o resultado. O livreto fornece ampla informação sobre os responsáveis pela gravação (Engenheiro e edição de áudio: José Carlos Pires, com nada menos que 11 assistentes de gravação listados), mas nada é dito sobre o equipamento de gravação nem o formato. Na região superior há uma ressonância excessiva, enquanto que, na extremidade inferior, a sonoridade carece de calor suficiente.

Será que 14 peças de estudo, tocadas uma após a outra em variações, mas cada vez mais difíceis tecnicamente, apelar para o ouvido inexperiente de uma audiência média? Tenho aqui minhas dúvidas. Pode transmitir uma sensação de monotonia na medida em que a complexidade dessas invenções consecutivas escapam a um ouvinte não iniciado. Por isso, sugiro aos iniciantes a não ouvir este disco de uma só vez. Meu conselho: deguste pouco a pouco, até que o cérebro comece a entender e seja capaz de seguir o que, em minha opinião, nunca foi ultrapassado desde que Bach deixou este mundo. Ele serviu, como Bach esperava, como um valioso ponto de partida para as gerações posteriores de compositores até o dia de hoje.

Para um conjunto mais ou menos completo no catálogo de alta resolução há uma variada escolha de instrumentos para esta obra: órgão, cordas, saxofones e agora flautas doces. Preferências pessoais podem desempenhar um papel na escolha, e este disco é uma escolha tão boa como os outros citados. O conceito é interessante e, a julgar pela qualidade da performance e entusiasmo com que Gustavo de Francisco, Renata Pereira, Felipe Araujo e Fernanda de Castro desdobram suas idéias, não apenas os amantes da flauta doce, mas muita gente certamente vai querer ouvir mais sobre esse conjunto inventivo.

Blangy-le-Château,
Normandy, France.

Copyright © 2017 Adrian Quanjer e HRAudio.net

Performance:
Sonics (Multichannel):

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