Turnê Bolívia 2022 – Festival Misiones de Chiquitos

19/

05/22

Antes de te contar tudo o que aconteceu nessa turnê, um pequeno exercício de empatia:

Imagina você, um músico instrumentista e seu grupo com 16 anos de estrada nacional e internacional, se vê “parado” por quase 3 anos, muito devido à pandemia da Covid-19. No mínimo entediante, não é mesmo?

Agora você, com essas mesmas qualidades, se vê rumo à uma turnê com 5 concertos que rodará a Bolívia para tocar em igrejas e povoados, com expectativas de conhecer pessoas novas, diferentes culturas…

Aí, sim! A alegria reinou nesse quarteto!

 

 

 

 

Veja como foi o nosso itinerário:

24/04 às 19:30
Porongo, Iglesia San Juan Bautista

25/04 às 20:30
San José, Iglesia Jesuita de San José de Chiquitos

26/04 às 20:30
San Ignacio, Catedral San Ignacio de Loyola

27/04 às 20:30
Concepción, Catedral de la Inmaculada Concepción

28/04 às 19:00
Santa Cruz de la Sierra, Capilla Los Huérfanos

 

O repertório, a preparação e o retorno, quase 10 anos depois.

Nós começamos a ensaiar o repertório específico desta turnê neste ano (2022), mas como faz parte da vida de um grupo de câmara estar sempre a postos para entregar o melhor para o seu público, a preparação para a turnê começou muito antes com a escolha do repertório, produção de partituras e transcrições, estudos individuais, memorização e vários outros detalhes.

Para esta edição do Festival, preparamos o Abendmusik, com música barroca alemã dos séculos XVII e XVIII, e a escolha destes compositores está além do tema do Festival de Música Barroca, tem a ver com o fato da música barroca – e todo este universo – estar no sangue de todo flautista.

Aliás, essa é uma das razões que mais nos gerou expectativa nesta turnê de 2022, ir à Bolívia para o Festival Internacional de Música Renascentista e Barroca Americana e viver todo esse clima.

O auge do nosso instrumento foi no período barroco, quando era utilizado em muitas óperas, cantatas, e também em solos e música de câmara, praticamente todos compositores do período fizeram música para flautas doces.

Na escolha deste repertório, não poderíamos deixar de lado Bach e Telemann, talvez os dois maiores expoentes do estilo. Escolhemos também música de Muffat, que mistura um pouco do gosto francês em suas composições, e também Buxtehude, que escreveu muitas obras vocais e também para cordas.

E por último, apresentamos um grande hit parade do barroco: o Canon em D de Pachelbel, que há 300 anos faz sucesso sempre que é tocado.

Representando o Brasil no Festival

Essa é a segunda vez que vamos para o Festival Misiones de Chiquitos, como é conhecido. Em 2014, o festival queria um representante do Brasil, e o flautista argentino Ramiro Albino que nos conhecia da Oficina de Música de Curitiba, indicou nosso nome ao festival. E foi assim que o diretor do festival, Piotr Naurot, acabou conhecendo nosso trabalho, e gostou muito do que fizemos.

Desta vez, fomos convidados diretamente pelo Piotr, para a edição de 2020 do festival, mas foi cancelada pela pandemia. O convite se estendeu para a edição de 2022.

Sendo assim, essa foi a segunda vez do Quinta Essentia no Festival Misiones de Chiquitos.

Na primeira vez, teve aquele ar de novidade: foi incrível conhecer as igrejas das missões espanholas, ir até um sítio arqueológico em San José, conhecer comunidades que parecem que pararam no tempo (e isso é uma coisa boa, pois preservam muito de sua cultura e nos faz viajar pelos séculos).

 

Agora, na segunda vez, repetimos duas cidades, Santa Cruz de la Sierra e San José, e conhecemos 3 novos “pueblos”: San Ignacio de Velazco, Concepción e Porongo. As igrejas são lindas, muito ornamentadas, num estilo muito diferente das igrejas históricas no Brasil.

Esta edição do Festival contou com mais de 130 concertos em 14 cidades, e ficamos admirados pela atenciosa e perspicaz organização do festival. Não deve ser nada fácil organizar um evento desta magnitude e percebemos que do transporte a organização geral, houve uma melhora desde 2014. Bravi!

Sempre buscamos ter alguma interação com o público em nossos concertos tornando a experiência mais humana e especial. Dessa vez, pensando em fazer algo diferente de tudo que já fizemos, inusitado para um concerto de música antiga: na última peça, o Canon de Pachelbel, convidamos o público a gravar e compartilhar nas redes sociais o vídeo, marcando o grupo.

E no último concerto, uma selfie do grupo, de cima do palco, com todo o público presente na igreja. Isso foi mágico, pois todos puderam interagir e se sentir parte da experiência proporcionada no concerto. Afinal, todo esse momento era pra eles.

Deu tempo de curtir um pouquinho.

E como ninguém é de ferro, apesar de toda a correria que uma turnê exige para o músico, deu tempo sim de curtir um pouquinho e aprofundar ainda mais nossos laços entre nós do grupo, com a natureza e a cultura local.

Apesar de todo o calor, os passeios foram lindos: céu azul, natureza exuberante, árvores floridas, comida boa, cultura local acolhedora, a arquitetura das igrejas que realmente merecem o destaque e carinho que o festival tem para com elas.

Um verdadeiro oásis em meio ao – não negável – cansaço físico de uma turnê.

 

Mas que festival é esse mesmo?

E falando em festival… O Festival Misiones de Chiquitos, ou, Festival Internacional de Música Renascentista e Barroca Americana, acontece a cada dois anos na Bolívia.

O festival é único do gênero no mundo, um dos mais importantes da Bolívia e da América Latina.

Ele nasceu pela vontade de preservar e difundir o arquivo musical encontrado durante o processo de restauração dos templos construídos na época das missões jesuítas no país.

Foram encontradas mais de 9.000 folhas de músicas sacras escritas entre os séculos XVII e XVIII, tanto por músicos europeus quanto por indígenas da região.

Em 1991, a UNESCO declarou 6 povos e templos “chiquitanos” como Patrimônio Cultural da Humanidade e em 1996, a APAC (Associação Pró Arte Cultura) organizou o primeiro Festival e aí não parou mais, apenas em 2020, por conta das restrições exigidas devido à pandemia da Covid-19. Pandemia essa que ainda nos traz alguns desafios. Veja…

Desafios pandêmicos e perrengues da viagem

Não fizemos câmbio para a viagem, pensando que poderíamos usar cartão de crédito internacional quando necessário. Em Porongo, saímos para um lanche antes do concerto, perguntamos se o restaurante aceitava tarjeta de crédito. Disseram que sim, então pedimos algumas empanadas e sucos. Quando apresentamos o cartão para pagarmos a conta, não havia a máquina de pagamento, e não tínhamos dinheiro local. Foi aí que conhecemos uma pessoa que estava comendo no restaurante, e que soube que iríamos tocar, e pagou nosso lanche. Em troca, demos a ele dois discos do grupo.

Na última viagem, já voltando à Santa Cruz para o último concerto após 4 concertos realizados, havia um bloqueio na estrada feito pela tribo de índios Ayoreo, que atrasou nossa viagem em quase 3 horas. Não sabíamos se a estrada iria reabrir, se havia gasolina para seguirmos viagem até o destino pois no posto não havia combustível devido ao bloqueio, além é claro do calor de mais de 30 graus na estrada.

No final, tudo correu bem e fomos liberados para seguir viagem, com um pouco mais de emoção e a história para contar.

 

No meio do Festival, acontece o lançamento do Tunes!

E falando em emoção, depois de tanto esperarmos e no meio de todo esse turbilhão, acontece o lançamento do nosso novo álbum, o Tunes! Totalmente dedicado à música de games, filmes e desenhos. Estávamos aguardando muito para esse lançamento e, por um pequeno atraso, acabou acontecendo no mesmo período do festival.

Pra gente isso não foi um problema, muito pelo contrário, até porque quanto mais música melhor!

A Flauta Doce é um instrumento versátil e cheio de possibilidades. Tocar música barroca num festival na Bolívia enquanto ouvíamos o repertório do novo álbum lançado, pra gente foi uma delícia.

Viva a Música! Viva a Flauta Doce e todas as suas formas de tocar! 😀

 

 

 

 

 

Histórias que ficarão marcadas na memória


Se você chegou até aqui no nosso diário de bordo do Quinta Essentia, deve ter percebido (e visto pelas fotos) o quão bonito foi.

Viu ainda sobre a cultura e outros detalhes. Mas a gente não poderia deixar de te contar algo muito sublime e até mesmo etéreo que aconteceu.

A gente sempre fala sobre a importância da Beleza que a Música traz e sobre nossa incansável busca de sempre levar para nosso público o nosso melhor no que se refere à isso.

Mas dessa vez, quem recebeu um presente, um privilégio e até mesmo uma ordenança natural fomos nós.

Era dia em Porongo – Santa Cruz, ensaiávamos a Passacaglia do Bach.

Enquanto a música e toda a sinergia aconteciam, eis que surge um cortejo fúnebre, carregando um caixão de alguém do povoado. O cortejo entrou na igreja, o povo carregava o caixão e a certa altura o colocaram no chão da igreja.

Continuamos a tocar, perplexos e emocionados com tudo o que estava acontecendo. Um momento mágico, de elevação.

Houve uma benção por parte daquele grupo e após isso, levantaram-se e também ao caixão, o retiraram da igreja e seguiram o cortejo.

Se certas coisas são escritas nas estrelas, talvez esse momento já estivesse previsto. Tudo aconteceu durante a música, não demorou muito e não tivemos tempo de fazer nada, a não ser aquilo que amamos e fazemos com o coração: tocar.

Ficamos emocionados.

A Música nos une e nada disso seria possível sem apoio e confiança

Decidimos contar por último esse relato emocionante pois a lição que tivemos foi: a música nos une! E isso foi uma mensagem constante a cada concerto, a cada olhar, a cada história, a cada nota…

E queremos deixar registrado aqui que nada disso seria possível sem o apoio e confiança de todos vocês, desde ao representante na embaixada até quem foi de última hora para o concerto e se encantou.

Pra gente, esse é o nosso servir: levar a Beleza da Música e tocar almas com nosso som, nossa dedicação e alegria.

Saímos da Bolívia já com o coração desejoso de mais uma turnê por lá.

Agradecimentos especiais a:

APAC Bolívia
Embaixada do Brasil em La Paz
Piotr Naurot
Percy Añez Castedo

E a todos que nos acompanham de perto ou de longe, que não foram a esse festival mas que acompanharam nosso trajeto pelas redes sociais: a sua audiência é preciosa para nós e a gente gosta muito de ter vocês por perto.

Obrigado!

 

Confira mais detalhes nas postagens do nosso Instagram e nos acompanhe por lá para ver mais sobre nossos bastidores, novidades sobre os concertos e vídeos do grupo.

 

“Dias maravilhosos com muito calor humano e calor mesmo! Gratidão imensa por fazer parte do Festival Misiones de Chiquitos com o Quinta Essentia. Foi incrível conhecer tantos lugares e povos em tão pouco tempo. Cada um com sua beleza e característica singular.” MARINA

 

 

 

 

 

“Após quase 3 anos sem podermos compartilhar música com as pessoas, da melhor maneira que podemos fazer, ao vivo, com público, voltamos para o Festival de Chiquitos e além do público nos inspirar novamente, pudemos novamente experimentar do sentimento, que com toda certeza, nos fez seguir essa carreira. Este festival uniu povos muito diferentes, pessoas muito diferentes, com culturas, opiniões e atitudes completamente diferentes. E todos estavam unidos ali apenas e exclusivamente pela Beleza da Música.” RENATA

 

 

 

“O que mais gosto de fazer é de tocar, viajar e estar entre amigos; e depois de tanto tempo impedido de fazer tudo isso, foi um bálsamo estar de volta ao trabalho, e apresentando novamente um repertório que preparamos no período em que estávamos impedidos de realizar concertos.
Muita coisa aconteceu na viagem, novos amigos, novas experiências, algumas boas e outras nem tanto. Conhecemos alguns lugares incríveis, e revisitamos outros que conheci em 2014 em nossa primeira viagem a esse festival.
O melhor de tudo é ver o público se emocionar com nossa música. Isso faz todo o trabalho, toda a preparação e dedicação valer a pena.” GUSTAVO

 

 

“Participar do festival nas misiones de Chiquitos foi uma verdadeira imersão em Música e Cultura. O mundo parou um pouquinho para que a gente pudesse oferecer e receber arte!” FRANCIELLE

 

 

 

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