Tenho me deparado muitas vezes com os problemas do aprendizado, e pesquisado muito a respeito de como aprendemos algo novo, e quais técnicas podemos usar para melhorar nosso aprendizado, tanto para aprender mais rápido quanto para não esquecer o que já aprendemos. E nesta pesquisa, me deparei com algo muito comum e que nos atrapalha neste processo: a ilusão do conhecimento. O mais surpreendente é que isto acontece em todas áreas do conhecimento, inclusive no aprendizado da música!
Sobre o aprendizado
Antes, vamos entender o que é aprendizado. Para dizer que sabemos algo ou que aprendemos algo, não basta ter lido um livro ou ter ouvido alguém falar, é necessário construir relações com este aprendizado através de alguma experiência. Um exemplo: decorar um dicionário não faz ninguém aprender a falar uma língua, pois para falar a língua é necessário ter a experiência da conversa com pessoas nativas daquele idioma, da sua escrita, da leitura, da maneira de ordenar as palavras, da pronúncia, e milhares de nuances que não se aprende com um dicionário, e muitas vezes, mesmo com muita experiência, talvez ainda não entendemos algumas piadas e trocadilhos na outra língua. Neste exemplo, vemos que o aprendizado se dá por camadas que se sobrepõem, e muitas vezes até nos esquecemos das camadas mais profundas, aquelas que aprendemos primeiro.
A cada novo aprendizado uma nova camada é criada em nossa mente, e esta se sobrepõe aos outros conhecimentos que já acumulamos, e o conhecimento vai sendo construído pelas conexões entre as camadas já solidificadas em nossa mente com as novas que vão se formando. Porém, esta nova camada apenas se solidifica e serve como base para os futuros aprendizados quando houve a prática da mesma.
Essas associações ou conexões podem ser fortes ou fracas, e dificilmente temos consciência de todas as conexões que o nosso cérebro constrói durante o aprendizado. Ao memorizar música por exemplo, também estamos memorizando todo o processo de estudo, associando aquela nota com o quarto de estudo, com os cheiros, com as sensações, e com o nossos sentimentos. Geralmente quanto mais sentimentos fortes (raiva, amor, medo) estiverem associados com uma atividade ou conhecimento, mais forte será esta memória, enquanto um aprendizado meramente racional (sem sentimentos) é facilmente esquecido. Quando o sentimento é ruim, pode ser que nossa mente se esforce por “se livrar” daquela sensação, levando junto com ela o aprendizado, e é por isso que um ambiente acolhedor é desejável em todas as atividades do aprendizado, como em uma escola, por exemplo. O desafio do aprendizado, isto é, a dificuldade da tarefa, também costuma construir uma associação forte, enquanto que uma tarefa muito fácil pode ser subestimada e esquecida rapidamente.
Geralmente, quando temos contato com um problema pela primeira vez e tentamos solucioná-lo, nesta busca por soluções nosso cérebro trabalha duro. Ao encontrar a solução, temos o aprendizado, mas neste momento apenas de forma superficial, pois acabamos de construir uma conexão fraca em nosso cérebro entre o problema e a possível solução. Por isso, muitas vezes ao se deparar com o mesmo problema pela segunda vez, temos que buscar novamente a solução pois não aprendemos de fato qual o caminho para a sua solução. Após fazer isso algumas vezes, temos o aprendizado profundo, sabendo de fato como devemos solucioná-lo, e inclusive algumas soluções alternativas.
Afinal, o que é a ilusão do conhecimento?
Agora podemos falar da ilusão do aprendizado, com um exemplo: alguém compra uma flauta nova e procura uma tabela de dedilhados na internet. Ao encontrar, a pessoa pensa que já sabe tocar, mas ao experimentar tocar a primeira música, percebe que ter visto a tabela não a faz lembrar de todos os dedilhados com a rapidez e fluência necessária para tocar a primeira música.
Assim como o aprendizado se dá por camadas, a ilusão também acontece desta maneira. Após um pouco de treino e estudo, a pessoa já consegue tocar a primeira música com agilidade, e pensa que já consegue tocar qualquer música, afinal os dedilhados são os mesmos certo? Mas logo ele percebe que isso não é suficiente, e que muitas vezes, mesmo racionalmente já conhecendo todos os dedilhados, ainda se esquece de alguns dedos, ou se atrapalha nas mudanças.
Até agora apenas citei exemplos elementares, que percebemos logo no início, mas nem sempre é tão fácil detectar essas ilusões. Vou tentar dar mais um exemplo:
Queremos aprender uma música, para tocar de memória, sem a partitura. Para isso, estudamos muitas vezes, repetimos muitas vezes, ouvimos a música muitas vezes, até que conseguimos tocar de memória. Ao chegar no concerto, subimos no palco, e esquecemos a música. Ou então, ao tocar com outros instrumentos a nossa performance é prejudicada. Ou ainda, quando algo não previsto acontece, pulamos um pedaço da música sem perceber. Por que isso acontece?
Isso acontece quando ainda não construímos relações e conexões suficientes em nosso cérebro, para conseguir realizar a tarefa em qualquer situação. Mas quando acreditamos conseguir e o nosso cérebro falha, provavelmente caímos em uma ilusão do conhecimento, em alguma das etapas do aprendizado.
Mas como evitar?
Podemos usar algumas técnicas para evitar cair nas ilusões que nossa mente nos faz acreditar. Segue abaixo:
- Defina objetivos ou tarefas durante o processo de estudo ou aprendizado, e sempre que cumprir estas metas ou objetivos, comemore, permitindo a si uma recompensa (comer um doce, ficar algum tempo nas redes sociais, acessar o blog do FlautaDoceBR…);
- Evite metas ou objetivos muito distantes, divida desafios grandes em desafios menores;
- Divida o estudo em intervalos menores. Estudar 4 horas seguidas costuma ser menos eficaz do que 4 intervalos de 50 minutos cada com pausas de 5 ou 10 minutos entre eles;
- A cada tarefa aprendida, teste seus conhecimentos realizando a tarefa inteira do começo ao fim sem ajuda externa, confiando apenas em sua própria mente. Realizar a tarefa aprendida com ajuda externa é uma das maiores causas da ilusão do conhecimento;
- Procure estudar em locais diferentes a cada dia, especialmente para atividades que serão realizadas fora dos locais de estudo (como aprender uma língua ou tocar um instrumento);
- Procure construir relações positivas com o assunto do aprendizado, e evitar as relações que não causam prazer. Quando gostamos do assunto, aprendemos com maior facilidade;
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1 Comentário para "A ilusão do conhecimento"
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Artigo
Concordo contigo. É desta forma que aprendo e integro processos a minha rotina de trabalho ou de estudos.