A flauta quebrou!

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A flauta quebrou!

Esta semana, tivemos uma surpresa. um aluno chegou na aula triste, com a mãe chateada, mostrando a flauta quebrada. “O que aconteceu?” perguntamos. “Deixei a flauta em cima do sofá, e quando voltei estava rachada e, depois de pouco tempo, quebrada”.

Acidentes acontecem, e alguns deles podem ter suas consequências minimizadas. Mas deixo aqui registrado para que todos vejam como é importante cuidar do seu instrumento…

Recebi esta notícia por telefone, não sabia como estava o instrumento. Apenas me disseram que o pé da flauta havia quebrado em dois. Fiquei imaginando como estaria o local rompido, se a madeira havia entortado (caso comum quando existem tensões internas na madeira), ou se a madeira se rompeu em um veio, sem entortar. Ainda haveria a possibilidade de ter lascado mais alguma parte, faltando alguns pedaços.

Quando a flauta chegou em minhas mãos, pude avaliar melhor. Aparentemente não haviam pedaços faltando, e a rachadura seguia exatamente a linha dos veios. Não havia deformações na madeira pelas tensões internas, algo muito bom, pois isso poderia inviabilizar a reparação.

Com isso, parti para a limpeza da madeira, para remover todo o óleo e outras substâncias que poderiam impedir a colagem. Foram 3 dias de secagem.

Depois disso, resolvi fazer a foto acima, com a flauta quebrada em cima do sofá, uma paródia visual sobre o ocorrido. Um episódio desta magnitude precisa ser registrado, não é mesmo? Ainda mais importante, para que os flautistas entendam o que pode acontecer quando não cuidam de sua flauta.

Depois da colagemParti para a colagem. Neste caso, a cola mais recomendada é a cola epóxi, pois é uma cola flexível e muito resistente. Super Bonder poderia ser usada apenas em caso de uma rachadura que não chegou a romper completamente, por ser uma cola de alta penetração e capilaridade, mas sua desvantagem é não ser flexível, e, após algum tempo, pode romper novamente por causa das variações da madeira devido à umidade e temperatura.

Neste momento fiquei bem entusiasmado, pois percebi que esta história poderia acabar bem. A colagem ficou muito boa, sem falhas ou vazamentos. Por isso, resolvi registrar novamente este grande momento, para que todo o processo fosse documentado.

ColagemO próximo passo seria remover todo o excesso da cola, mas só poderia ser feito no dia seguinte, após a cola haver secado completamente.

Usando um bisturi, fui removendo lentamente e cuidadosamente cada gota de cola, dentro e fora do tubo, para que a emenda ficasse praticamente invisível.

O resultado do trabalho? Bem, este pode ser visto no final deste post. Mas devo dizer que este aluno teve muita sorte, pois a rachadura não envergou a madeira, o que teria tornado impossível a restauração. Além disso, o encaixe desta flauta sempre será muito sensível, podendo abrir novamente caso o manuseio não seja feito com muito cuidado a partir de agora. E caso a rachadura se abra novamente, a colagem ficará cada vez mais difícil de ser refeita.

Mas a história não acaba por aqui. Entrei em contato com a Mollenhauer, já que eu iria viajar até a fábrica dali a um mês, e contei toda esta história. Eles foram super atenciosos, e pediram que eu levasse o pé da flauta rachado, e eles iriam substituí-lo por um novo. Ao chegar na fábrica, nem tive que entregar o rachado, eles apenas usaram ele para selecionar um outro com a cor exata da madeira, para evitar que a flauta ficasse com um pé de outra cor devido às mudanças da madeira, e tudo sem custo algum. No final, o aluno ficou com 2 pés de flauta!

Moral da história: sofá não é lugar de instrumento musical. Eu mesmo já passei por isso quando criança, quando deixei a flauta em uma cadeira e alguém sentou em cima, tive sorte de isso acontecer em uma flauta de plástico ao invés de uma excelente flauta soprano de grenadilla (como este caso). Quando acontece conosco, o sentimento de perda é o mesmo, independente do valor do instrumento.

Reparo finalizado

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