Caboclo: a música brasileira correndo o mundo

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01/20

IR PARA A CAMPANHA: PRÉ-VENDA CD CABOCLO

 

 

O ano 2019 foi muito especial, foi um ano de novas conquistas e realizações. Uma delas foi a gravação deste álbum, CABOCLO, vou contar como foi.

Em 2016, fizemos uma campanha no Kickante para a finalização de nosso disco A Arte da Fuga, foi quando recebemos um convite do selo alemão ARS-Produktion para lançar o disco na Alemanha. Quem acompanha o nosso trabalho e já tem esse disco, já viu e ouviu que o resultado foi primoroso, tanto no áudio quanto na arte gráfica (leia as resenhas aqui, aqui, aqui ou aqui).

Pois bem, desde então estivemos buscando oportunidades para fazer uma produção completamente internacional, levando de nosso país apenas a nossa música. Como dinheiro não cai do céu, e o estúdio, a viagem, e o trabalho de todos envolvidos não é gratuito, estávamos aguardando a chance de aliar uma turnê internacional com a gravação do disco, de forma a ter ao menos os custos da viagem cobertos.

A oportunidade veio quando fomos convidados para tocar no Shenzhen Belt & Road Music Festival, na China. Já estávamos em negociação com o festival desde de 2017, mas o convite chegou em 2018 para o festival que aconteceria em abril/2019 – sim, turnês internacionais são negociadas com mais de 1 ano de antecedência. Ué, mas o festival era na China, e a gravação na Alemanha? Sim, para ir até a China, fizemos um stop-over de 10 dias na Alemanha, gravamos o disco e fizemos um concerto na Embaixada do Brasil em Berlim, aproveitamos para levar nossos instrumentos para manutenção com os luthiers alemães, depois fomos para a China quando tocamos em Shenzhen para um público de mais de 1000 pessoas nesta sala de concertos, fomos também a Hong Kong onde demos aulas e masterclasses para um grupo de flautistas, e na volta, fizemos mais uma parada na Alemanha de apenas 1 dia.

A gravação do disco Caboclo foi na cidade de Wuppertal, na região nordeste da Alemanha, próximo as cidades de Essen, Köln e Düsseldorf. Gravamos em uma igreja bem antiga, que a prefeitura queria demolir para construir um empreendimento. Os músicos e gravadoras da região se uniram para evitar que isso acontecesse, pois a igreja tinha uma ótima acústica e era frequentemente requisitada para concertos e gravações. Assim, com essa união, impediram a demolição da igreja, e ainda mais, foi criado um centro cultural no prédio da igreja, que foi transformada em um estúdio e sala de concertos. As janelas e portas antigas foram substituídas por outras modernas e com tratamento acústico, o piso por um piso suspenso com todo o cabeamento embutido, dois palcos, um coro, a sacristia virou o foyer da sala de concertos…

A logística de turnês costuma ser intensa, pois temos que fazer muita coisa em pouco tempo, pois cada dia a mais significa aumentar custos da viagem (que são pagos em euros), e também ter que cancelar mais compromissos no Brasil.

Chegamos na Alemanha pelo aeroporto de Frankfurt, um dos maiores aeroportos do país e que possui conexões para diversos outros países. Isso reduziu bastante os custos da viagem. Mas nosso primeiro compromisso era em Berlim, foram 5 horas de viagem em trens rápidos (que podem chegar a 300Km/h) a partir de Frankfurt. Depois de 12 horas de vôo, mais 5 horas no trem (sem contar a espera no aeroporto ou estação de trem), chegamos em Berlim esgotados. No dia seguinte teríamos um concerto importante, na Embaixada do Brasil em Berlim.

O  concerto foi lindo, com casa cheia, muita gente importante na platéia que eram convidados da Embaixada. Conhecemos muita gente nova que adorou nossa música.

Tivemos o sábado livre, e já no Domingo foram mais 4h de trem até Wuppertal. Segunda começariam as gravações, então fomos verificar o estúdio, ensaiar, verificar todos instrumentos, descansar para dar o máximo durante as gravações.

Engraçado lembrar de tudo isso. A gravação foi tão intensa, que para mim é como se eu estivesse entrado no estúdio num dia, e ao final do dia estivesse tudo pronto. Foram 5 dias de muito trabalho e muita concentração, cuidando de cada segundo da música. O resultado você pode ouvir no álbum.

Ao fim das gravações, tivemos um fim de semana livre. Ufa! a cabeça estava a mil por hora, reencontramos um grande amigo cravista, Daniel Ivo, que hoje mora na Alemanha e trabalha numa editora de partituras. É sempre bom reencontrar amigos.

Neste fim de semana, conhecemos uma sorveteria, disseram que seria a melhor sorveteria do mundo! Para quem estiver na região, conheça a Eiscafe Ratingen.

Depois da Alemanha – a caminho da China!

Na segunda-feira, mais uma jornada, dessa vez ao outro lado do mundo. Seriam mais 2 horas de trem até Frankfurt, mais a espera do vôo, mais 15 horas dentro do vôo até Hong Kong, mais algumas horas de carro até Shenzhen – fora controle de passaporte, bagagens, fuso horário, línguas diferentes, comidas diferentes…

Fomos muito bem recebidos pela Xi (que preferia ser chamada de Xi Xi que é a maneira carinhosa de dizer o diminutivo do nome dela). Ela, que já havia cuidado de toda a produção antes da viagem, estava lá pessoalmente para nos receber, e levar-nos junto com uma orquestra italiana até Shenzhen. Muita burocracia na alfândega entre Hong Kong e China, e uma vista maravilhosa da bahia de Hong Kong no fim de tarde, passando por uma das pontes mais longas do mundo.

Foram 2 dias para se acostumar com a diferença de fuso-horário (são 11 horas de diferença em relação ao horário de Brasília), onde aproveitamos este tempo para ensaiar, gravamos entrevistas para a TV local, e dormimos. A comida é um capítulo à parte, que merece um post culinário para descrever.

O concerto foi na sexta feira à noite, no Nanshan Culture Center, um teatro para mais de 1000 pessoas, que estava praticamente lotado.

Fizemos novas amizades no oriente, os flautistas de Hong Kong Ivan, Desmond e Kevin escreveram para nós na véspera da viagem, e pediram para que fizéssemos um masterclass para os flautistas de Hong Kong. Assim, no sábado após o concerto, saímos bem cedo do hotel, viajamos 2 horas de Shenzhen até Hong Kong, e passamos o dia inteiro com eles tocando, ensaiando, tivemos algum tempo para um city-tour, e no sábado à noite nos deixaram no aeroporto para voltarmos.

Essa deve ter sido a viagem mais longa da minha vida até o momento. Com algumas paradas, eu sei, mas sem nenhuma cama para restaurar as energias. Saímos de Hong Kong no sábado à noite, para chegar em Frankfurt no domingo pela manhã.

De volta à Alemanha

Lembra quando eu disse que fizemos manutenção nos instrumentos? No início da viagem, fizemos uma parada estratégica em Fulda, onde existem muitos luthiers de flauta doce. Deixamos as nossas flautas quadradas para manutenção, e o luthier nos emprestou outras flautas novas como as nossas, para que pudéssemos tocar durante a gravação e na turnê para a China. Agora era hora de devolver os instrumentos, e pegar os nossos de volta.

Então desembarcamos em Frankfurt pela manhã, pegamos um trem para Fulda, o luthier estava na estação de trem com nossos instrumentos, fizemos a troca, e voltamos para Frankfurt. Ainda teríamos a tarde toda livre, pois nosso vôo para SP só partiria tarde da noite. Então fomos curtir nossas últimas horas na Europa antes de voltar pra casa. Não curtimos tanto assim, pois estávamos carregando todos instrumentos nas costas, incluindo os grandes.

Chegamos em casa na segunda-feira, quase na hora do almoço. A contar que saímos do hotel na China no sábado de manhã (o que corresponde à sexta à noite no horário do Brasil), foram cerca de 60 horas desde que saímos do hotel até a hora que chegamos em casa. Só de lembrar, já penso que tá na hora do banho!

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4 Comentários para "Caboclo: a música brasileira correndo o mundo"

  1. Vocês são verdadeiros heróis. E também tem energia de criança. Afinal, tocam Música de Gente Grande com instrumento de criança. Parabéns músicos abençoados que produzem sons divinos.
    Que bom que existem e graças a Deus não são os únicos. Que todos os seus dias sejam de muita felicidade, linda Quinta Essência.

  2. Boa tarde Quinta Essência! Embora eu já seja músico, militar, comeceia estudar Flauta Doce agora, ao 45 anos. Sinto que estou redescobrindo a música em mim e no mundo. Descobri vocês através de acesso a vídeos e demais material sobre Flauta doce. Saber que existe um grupo que representa nosso país, nossa cultura de forma tão nobre primorosa me enche de orgulho e me estimula, e ma dá toco.
    Parabéns!!!!!

    • Obrigado Marcio
      Ficamos contentes de inspirar pessoas a gostar e tocar o nosso instrumento, a flauta doce.
      Grande abraço!

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