Australia Tour 2017

30/

06/17

Em Junho de 2017 o Quinta Essentia viajou até o outro lado do mundo para se apresentar na Austrália. Foram várias apresentações em diferentes cidades, destacando o convite do Woodend Winter Arts Festival ao quarteto, sem o qual não seria possível ter realizado a turnê. O grupo se apresentou também em outros eventos importantes, organizados pela Victorian Recorder Guild e pelo Conservatório de Música da Universidade de Sydney, oferecendo masterclasses e palestras para ambos.

Preparação da Australia Tour

Quinta Essentia em Melbourne
Quinta Essentia em Melbourne

A idéia dessa turnê para a Austrália é antiga. O Quinta Essentia recebeu o primeiro convite para se apresentar na terra dos cangurus em 2009, logo após a primeira turnê internacional na Europa. Naquela época, o grupo não tinha condições de realizar tal viagem, pois os custos das passagens eram altíssimos e o cachê oferecido não era suficiente para tal. Tivemos que recusar o convite, e aguardar uma melhor oportunidade.

O segundo convite veio do Festival de Woodend, em 2013, mas devido à agenda do grupo na gravação do disco Falando Brasileiro, não pudemos aceitar. Esse convite teve que esperar mais alguns anos para que pudesse ser efetivado.

Abertura do festival
Abertura do festival

E em 2016, recebemos um novo convite do Woodend Winter Arts Festival referente à edição de 2017, com antecedência suficiente para planejarmos uma maravilhosa turnê. A partir deste convite, entramos em contato com todas as pessoas que já demonstraram interesse em assistir o grupo naquela região do planeta, e pudemos confirmar eventos na Victorian Recorder Guild – a sociedade de flauta doce do estado de Victória no sul da Austrália – e também no Sydney Conservatorium of Music, que é vinculado à University of Sydney. E além de concertos, os membros do grupo foram solicitados a oferecer masterclasses e palestras.

O Festival nos ofereceu dois concertos na programação oficial, além de um concerto na abertura do festival. Ficamos honrados com o convite de tocar na abertura, até descobrirmos que o concerto de abertura seria ao ar livre, com possibilidade de vento nos instrumentos, e por causa disso, tivemos que recusar a honra de abrir o festival com música brasileira para flautas doces, afinal, o nosso instrumento, a flauta doce, não emite som se houver vento externo na janela do instrumento.

Em contra-partida, o festival nos pediu que nos apresentássemos em escolas da região, seriam 3 concertos em diferentes escolas.

O plano

A partir da confirmação dos eventos, o próximo passo foi o plano da viagem em si, para atender todos os compromissos:

Divulgação em Woodend

3/6 – Concerto/masterclass na sociedade de flauta doce de Victoria
4/6 – Viagem de Melbourne para Sydney (trajeto: 900km)
5/6 – Masterclass no Conservatório de Sydney
6/6 – Concerto no Conservatório de Sydney
7/6 – Viagem de Sydney para Woodend (trajeto: 850Km)
8/6 – Concertos em escolas
9/6 – Concertos em escolas
10/6 – Concerto no Woodend Winter Arts Festival
11/6 – Concerto no Woodend Winter Arts Festival

Com esse mapa em vista, teríamos que providenciar as passagens aéreas, todos os traslados a todos locais de concertos nas diferentes cidades que iríamos nos apresentar, providenciar hospedagens onde fosse o caso, e outros detalhes.

A passagem aérea foi a primeira providência. Além de ser o ponto mais caro da viagem, dependendo das conexões, das datas, e da franquia de bagagens (afinal levamos muitos instrumentos em uma turnê como essa) poderia inviabilizar toda a turnê. Encontramos uma variação de preços de mais de 40% nas passagens, e acabamos escolhendo um vôo pela Qatar Airways, de SP para Melbourne com parada em Doha, no Qatar.

Próximo passo seria a longa viagem para Sydney, pesquisamos vôos mas as companhias aéreas na Austrália não oferecem franquia de bagagem grátis. Como estávamos viajando com 5 pessoas e muitas malas, preferimos a viagem de carro do que pagar excesso de bagagem e mais 5 passagens aéreas. O aluguel do carro já estava quase certo, foi quando o festival entrou em contato dizendo que um patrocinador ofereceu o carro para nós gratuitamente, faltando apenas alguns dias para viajarmos. Excelente notícia!

A hospedagem foi quase toda acertada com os organizadores de cada um dos eventos, exceto pelo Conservatório de Sydney, que nos deixou livre para decidir onde ficaríamos hospedados. E um amigo de infância, que atualmente mora na cidade e sabendo de nossa passagem por lá, nos ofereceu sua casa e hospitalidade.

A viagem

A viagem seria longa, muito longa. Um vôo de 14 horas de SP até Doha, 22 horas de espera na cidade, para somente depois embarcar de Doha para Melbourne em um vôo de 11 horas. Total da viagem: 47 horas. Diferença de fuso-horário: 13 horas (enquanto em SP é meio dia, em Melbourne é 1h da manhã do dia seguinte).

Apesar do fato de ter que chegar no aeroporto às 3h da manhã para o check-in, a viagem foi tranquila. Chegamos em Doha na noite do mesmo dia, passamos por vários controles de raio-x e alfândega, e partimos para o hotel. Fica a dica: a Qatar Airways oferece uma hospedagem em trânsito para conexões maiores que 8 horas em Doha. Dá para descansar e/ou sair para conhecer a cidade. Gostei muito da experiência, exceto da temperatura da cidade: máxima de 47º e mínima de 37º naquele dia… Abaixo algumas fotos (clique para ver todas)

20170531 - Doha

Depois de uma boa noite de descanso e um passeio nas arábias, seguimos rumo a Melbourne. Mais um vôo de 11 horas, com pernas apertadas entre os bancos.

A chegada em Melbourne foi calorosa, fomos muito bem recebidos pela produção da Victorian Recorder Guild. Chegamos à noite, e teríamos o dia seguinte para acostumar com o fuso-horário, não é simples adaptar o corpo a 13 horas de diferença, a sensação de sono e de fome ficam malucas.

Victorian Recorder Guild

Concerto Victorian Recorder Guild

O dia foi puxado. Fizemos uma oficina com os membros da comunidade, onde participaram mais de 30 flautistas, divididos com os instrumentos soprano, contralto, tenor, baixo, grande-baixo e contra-baixo. Depois da oficina, teve aula para crianças, teve palestra onde contamos a história do grupo aos participantes, e ao final, um concerto com o mais novo repertório do Quinta Essentia: CABOCLO, com obras de compositores eruditos consagrados.

Fizemos muitas novas amizades, e foi muito gratificante conhecer pessoas que vieram de cidades distantes só para ter a oportunidade de assistir nosso concerto e participar das oficinas. Dentre essas, uma professora de flauta doce no Método Suzuki da região nos escreveu para que ela e sua filha pudessem ter aulas com a Renata, e além de participarem do evento, depois foram nos visitar durante o festival em Woodend. Foi bárbaro.

 

Sydney Conservatory

Concerto em Sydney
Concerto em Sydney

Já no dia seguinte, encaramos 11 horas de estrada de Melbourne para Sydney. Estradas boas e sem pedágio, porém, uma coisa que não é simples de acostumar foi o carro com o motorista do lado direito, e o trânsito do lado esquerdo (mão inglesa).

Não tivemos muito tempo para descanso, chegamos tarde da noite, dormimos para já no dia seguinte trabalhar o dia todo, em aulas e palestras no conservatório.

Chegando lá, todos estavam nos esperando logo na entrada. Um grande entusiasta já aposentado e estudante do conservatório, Peter, e mais três meninas eram os membros do quarteto de flautas do conservatório. A manhã se passou em uma longa aula/conversa sobre música, performance, produção musical e carreira artística, onde contamos a história do grupo, falamos de perspectivas para o futuro, em vias de orientar as meninas do quarteto, todas com cerca de 20 anos, em quais possibilidades de trabalho elas poderiam encontrar ao terminar a graduação de música daqui a 2 anos.

O período da tarde, trabalhamos de fato música, onde o quarteto tocou duas peças: O Lamento de Clorinda de Monteverdi, e O Cavalo de 5 Patas, de Chiel Meijering, uma peça audaciosa e virtuosística. No Monteverdi, eles contaram com a presença de uma cantora soprano, que fez a voz superior do madrigal escrito a 5 vozes. No masterclass, também contamos com a presença de diversos flautistas e outros músicos, que assistiram e fizeram muitas perguntas.

No dia seguinte, fizemos um belo concerto em uma das salas de concerto do conservatório.

Woodend Festival

Na sequência, nos dirigimos diretamente para Woodend, novamente uma viagem de 11 horas na estrada, chegando à noite.

Essa cidade, localizada no meio das montanhas ao norte de Melbourne, é muito pitoresca e calma. Nas estradas, você pode se deparar com uma família de cangurus, e com sorte, pode ver dois deles “lutando boxe” em disputa de território; pudemos presenciar essa cena no segundo dia na cidade, mas sem fotos pois os animais estavam longe de nós.

Nos apresentamos em três escolas, sendo uma escola pública, uma escola particular com uma metodologia alternativa, e uma escola particular tradicional.

Nessas escolas, pudemos saber mais de como a educação é feita naquele lugar, quais assuntos são importantes, ver “in loco” como cada escola se organiza e como os alunos se comportam nesse tipo de ambiente e em eventos.

Foi fantástico ver adolescentes curtindo a nossa música brasileira com flautas doces, ver a curiosidade deles a respeito das flautas modernas e as baixos quadradas, e a diferença gritante entre as escolas públicas de lá e as daqui, seja na questão das dependências da escola, seja na educação dos alunos em comparação com a falta dela muito comum aqui em nossa terra.

Depois dessas apresentações, fomos à abertura do festival.

A noite era fria, cerca de 5º, com vento e garoa fina, e acontecia o concerto de abertura com o Australian Guitar Trio. Teve queima de fogos de artifício, e uma feira de comidas típicas, além de uma apresentação com gaitas de fole.

Ainda teríamos dois concertos nos dias seguintes. Casa cheia nos dois dias, e muitos aplausos no final, foi quando apresentamos como bis, o Mourão de César Guerra-Peixe.

Concerto em Woodend
Concerto em Woodend

Faltou contar sobre nossa fantástica hospedagem, em Duneira, um museu histórico nos arredores da cidade que tem um jardim belíssimo. Nos momentos de descanso, pudemos ficar na sala de música, onde tocamos piano, cantamos e ensaiamos para os concertos. De vez em quando, ouvíamos barulhos pela casa, como se tivessem mais pessoas no local, ou arrastando móveis, mas não demos atenção. No último dia, quando empacotávamos as malas e instrumentos para partir, em uma conversa com a diretora do festival ela nos contou que havia atividade paranormal na casa, e histórias a respeito dos últimos donos do local. Um deles teria sido agente da KGB, morrendo envenenado dentro da casa. Quando chegamos em casa depois da viagem, descobrimos que existem até passeios turísticos para este local para que as pessoas presenciem assombrações reais.

Abaixo tem algumas fotos do jardim (clique para ver todas):

20170611 - Duneira

Agradecimentos

A experiência foi fantástica, e só temos a agradecer a todos que tornaram essa turnê possível. Toda a equipe do festival de Woodend, toda a Sociedade de Flauta Doce de Victoria, a direção do Conservatório de Sydney, os patrocinadores do festival, aos amigos “Café” e Rosie que nos hospedaram em Sydney, e um agradecimento especialíssimo ao nosso Roadie e grande amigo, André Isaia, que nos acompanhou em toda a viagem, ajudando na produção de todos os concertos, venda de CDs, tocando piano nos momentos de lazer, e é claro, aproveitando da ‘boca livre’ quando éramos convidados para jantar com os organizadores. Em suma, celebrando a nossa amizade da maneira que mais gostamos de fazer: com muita música, viajando e curtindo os melhores momentos de trabalho e lazer juntos.

 

Deixe uma resposta


Post